Sou suspeita para abordar este tema, já que sempre fui apaixonada por viajar. Acho até que está no sangue, como herança da minha amada mãe, que até hoje adora colocar o pé na estrada e sair da inevitável rotina, da qual ninguém escapa a todo momento. Viajar com a família ou com os amigos, com um roteiro determinado, desbravando nosso próprio país, já é o máximo. Que dirá então viajar só, para um país desconhecido, onde não dominamos o idioma e a cultura, onde não sabemos quem irá nos recepcionar e como iremos reagir a tudo de novo que vai surgir no caminho. Hoje conversando com alguns amigos que conheci na Austrália, me bateu uma nostalgia e resolvi postar alguma coisa, especificamente, sobre essa viagem. Não vou usar este post para descrever toda a viagem ou dar dicas turísticas, mas quero aproveitar para sintetizar tudo de mais valioso que pode acontecer num intercâmbio, e que por sorte aconteceu comigo:
1) Fazer amigos:
Primeiramente morei em Brisbane, no meu primeiro dia de aula conheci uma mineira chamada Mariana (a Mari), e naquele momento, mal sabia eu que estava conhecendo uma grande amiga e parceira, que estaria comigo em todas as crises, mundanças e descobertas da Austrália. Conhecia ali uma amiga para dividir o peso e somar as alegrias do desconhecido, uma amiga que veio para ficar. E na minha primeira semana de homestay (que eu costumava chamar de casa dos horrores, pois não dei muita sorte) conheci um árabe chamado Suliman e uma colombiana chamada Leandra, e também nem imaginava que estaria conhecendo grandes e improváveis amigos, que me proporcionariam várias conversas "cabeça" na sala de estar, onde todas as noites treinávamos nosso inglês, alimentávamos nossa amizade e conhecíamos um pouco mais sobre a cultura de cada país. A Leandra também se transformou numa irmã para mim, e isso em duas semanas de viagem. Quando eu chegava mais tarde em casa, ela guardava meu prato na geladeira, para que eu não perdesse o jantar (pois tínhamos horário para comer), ela matava barata no meio da madrugada quando eu a acordava, porque eu tinha medo (e sem me xingar), me dava colo quando eu estava triste e me fazia rir muito com seus chismes. Meu espanhol melhorou horrores com a nossa convivência. Já não estava só. Mais que isso, já havia criado vínculos que muitas vezes, em anos e anos de convivência, não somos capazes de criar com pessoas da nossa vida "normal", da nossa rotina.
2) Encarar o choque cultural, aprender com as diferenças e privações, absorver o que é bom e voltar melhor:
Daí por diante, veio a avalanche de novidades, todas tínhamos mais ou menos 3 semanas de moradia garantida e depois tivemos que nos virar, procurar apartamento e começar uma nova etapa. Daí veio a convivência com costumes de dezenas de países, o inglês 24 horas no ouvido, outros idiomas também, já que a Austrália é um país multicultural. A falta da comida brasileira e suas variedades. Os trabalhos inimagináveis e as lições tiradas disso, afinal, não é sempre que vemos por aí, advogados, farmacêuticos, administradores, jornalistas, etc., trabalhando como faxineiros, ajudantes de cozinha, pedreiros, garçons...(sem desmerecer nenhuma profissão). E tem mais. Tem a distância da família, dos amigos, das pessoas amadas, as dificuldades de relacionamento com os novos conhecidos, que rendiam muito stress nos apartamentos por onde passei, e que, constantemente, faziam com que lembranças do doce lar viessem a tona, fazendo valer aquele famoso ditado de que "só damos valor quando perdemos". Mas vieram também os passeios inacreditáveis, aqueles lugares que a gente conhece e já contempla com um olhar nostálgico, pois nunca sabemos se voltaremos ali um dia, e agradecemos a Deus, no ato, por tal momento. Aliás, não deveríamos ter essa postura só em viagens, pois a realidade da vida é essa: não sabemos se haverá uma segunda chance para nada. Não posso deixar de citar a convivência com serviços públicos que funcionavam, baixo índice de violência, o peso da liberdade total, que te faz mais responsável e que te leva a privações, voluntariamente. E já que é pra crescer de verdade: dificuldades financeiras, retenção de custos, queda de padrão de moradia e vida. E dá-lhe mais mudanças. Arrumo as malas e vou pra Sydney, e a Mari vai comigo, aquela do primeiro dia de aula. Para quem atravessou o globo, o que seria mudar de cidade em busca de condições melhores para realizarmos nossos sonhos? Tudo novo de novo. Muito tempo pra pensar e repensar na vida, muitas pessoas entrando e saindo do nosso percurso, alguns conhecidos tornando-se amigos, e muitos candidatos a amigos, decepcionando. Muitas decisões a serem tomadas. E resumidamente, se sabemos aproveitar, saímos de uma experiência dessas, mais ou menos, como eu acho que saí: muito inglês na cabeça (que era o objetivo inicial e principal), muita experiência de vida na bagagem, muita coragem de arriscar e sempre tentar de novo, mais responsabilidade nas atitudes, poucos e bons amigos espalhados pelo Brasil e pelo mundo, muitos projetos de viagens com esses novos e eternos amigos, muita vontade de voltar para a casa sendo uma pessoa melhor e, ao mesmo tempo, muita vontade de fazer tudo outra vez.
“Costumo responder, normalmente, a quem me pergunta a razão das minhas viagens: que sei muito bem daquilo que fujo, e não aquilo que procuro.” Michel Eyquem de Montaigne
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