domingo, 12 de julho de 2009

VIAJAR É PRECISO

Sou suspeita para abordar este tema, já que sempre fui apaixonada por viajar. Acho até que está no sangue, como herança da minha amada mãe, que até hoje adora colocar o pé na estrada e sair da inevitável rotina, da qual ninguém escapa a todo momento. Viajar com a família ou com os amigos, com um roteiro determinado, desbravando nosso próprio país, já é o máximo. Que dirá então viajar só, para um país desconhecido, onde não dominamos o idioma e a cultura, onde não sabemos quem irá nos recepcionar e como iremos reagir a tudo de novo que vai surgir no caminho. Hoje conversando com alguns amigos que conheci na Austrália, me bateu uma nostalgia e resolvi postar alguma coisa, especificamente, sobre essa viagem. Não vou usar este post para descrever toda a viagem ou dar dicas turísticas, mas quero aproveitar para sintetizar tudo de mais valioso que pode acontecer num intercâmbio, e que por sorte aconteceu comigo:

1) Fazer amigos:
Primeiramente morei em Brisbane, no meu primeiro dia de aula conheci uma mineira chamada Mariana (a Mari), e naquele momento, mal sabia eu que estava conhecendo uma grande amiga e parceira, que estaria comigo em todas as crises, mundanças e descobertas da Austrália. Conhecia ali uma amiga para dividir o peso e somar as alegrias do desconhecido, uma amiga que veio para ficar. E na minha primeira semana de homestay (que eu costumava chamar de casa dos horrores, pois não dei muita sorte) conheci um árabe chamado Suliman e uma colombiana chamada Leandra, e também nem imaginava que estaria conhecendo grandes e improváveis amigos, que me proporcionariam várias conversas "cabeça" na sala de estar, onde todas as noites treinávamos nosso inglês, alimentávamos nossa amizade e conhecíamos um pouco mais sobre a cultura de cada país. A Leandra também se transformou numa irmã para mim, e isso em duas semanas de viagem. Quando eu chegava mais tarde em casa, ela guardava meu prato na geladeira, para que eu não perdesse o jantar (pois tínhamos horário para comer), ela matava barata no meio da madrugada quando eu a acordava, porque eu tinha medo (e sem me xingar), me dava colo quando eu estava triste e me fazia rir muito com seus chismes. Meu espanhol melhorou horrores com a nossa convivência. Já não estava só. Mais que isso, já havia criado vínculos que muitas vezes, em anos e anos de convivência, não somos capazes de criar com pessoas da nossa vida "normal", da nossa rotina.
2) Encarar o choque cultural, aprender com as diferenças e privações, absorver o que é bom e voltar melhor:
Daí por diante, veio a avalanche de novidades, todas tínhamos mais ou menos 3 semanas de moradia garantida e depois tivemos que nos virar, procurar apartamento e começar uma nova etapa. Daí veio a convivência com costumes de dezenas de países, o inglês 24 horas no ouvido, outros idiomas também, já que a Austrália é um país multicultural. A falta da comida brasileira e suas variedades. Os trabalhos inimagináveis e as lições tiradas disso, afinal, não é sempre que vemos por aí, advogados, farmacêuticos, administradores, jornalistas, etc., trabalhando como faxineiros, ajudantes de cozinha, pedreiros, garçons...(sem desmerecer nenhuma profissão). E tem mais. Tem a distância da família, dos amigos, das pessoas amadas, as dificuldades de relacionamento com os novos conhecidos, que rendiam muito stress nos apartamentos por onde passei, e que, constantemente, faziam com que lembranças do doce lar viessem a tona, fazendo valer aquele famoso ditado de que "só damos valor quando perdemos". Mas vieram também os passeios inacreditáveis, aqueles lugares que a gente conhece e já contempla com um olhar nostálgico, pois nunca sabemos se voltaremos ali um dia, e agradecemos a Deus, no ato, por tal momento. Aliás, não deveríamos ter essa postura só em viagens, pois a realidade da vida é essa: não sabemos se haverá uma segunda chance para nada. Não posso deixar de citar a convivência com serviços públicos que funcionavam, baixo índice de violência, o peso da liberdade total, que te faz mais responsável e que te leva a privações, voluntariamente. E já que é pra crescer de verdade: dificuldades financeiras, retenção de custos, queda de padrão de moradia e vida. E dá-lhe mais mudanças. Arrumo as malas e vou pra Sydney, e a Mari vai comigo, aquela do primeiro dia de aula. Para quem atravessou o globo, o que seria mudar de cidade em busca de condições melhores para realizarmos nossos sonhos? Tudo novo de novo. Muito tempo pra pensar e repensar na vida, muitas pessoas entrando e saindo do nosso percurso, alguns conhecidos tornando-se amigos, e muitos candidatos a amigos, decepcionando. Muitas decisões a serem tomadas. E resumidamente, se sabemos aproveitar, saímos de uma experiência dessas, mais ou menos, como eu acho que saí: muito inglês na cabeça (que era o objetivo inicial e principal), muita experiência de vida na bagagem, muita coragem de arriscar e sempre tentar de novo, mais responsabilidade nas atitudes, poucos e bons amigos espalhados pelo Brasil e pelo mundo, muitos projetos de viagens com esses novos e eternos amigos, muita vontade de voltar para a casa sendo uma pessoa melhor e, ao mesmo tempo, muita vontade de fazer tudo outra vez.

“Costumo responder, normalmente, a quem me pergunta a razão das minhas viagens: que sei muito bem daquilo que fujo, e não aquilo que procuro.” Michel Eyquem de Montaigne

Nenhum comentário:

Postar um comentário