
Já repararam no fato de que vivemos correndo atrás do tempo? Que sempre estamos atrasados e pensando na frente, sem prestarmos atenção no agora? Que não é necessário haver um motivo justo para perdermos o controle e a paciência? Qualquer motivo é motivo, e quando não há, nós o criamos, afinal, já estamos muito habituados ao stress - o mau dos nossos tempos, e já nem parece que cabe a nós a iniciativa da mudança, esperamos que caia do céu uma nova fórmula de vivermos a nossa própria vida. Concordo que, hoje em dia, a vida e a sociedade nos levem a situações de muita impaciência. Mas quando temos a oportunidade de fazer diferente, por menor que ela seja, parece que, simplesmente, não sabemos mais ou não queremos relevar, deixar pra lá, sorrir pra não chorar, fazer piada e desencanar, aceitar, ceder, assumir o próprio erro, perdoar o erro alheio, esperar. Ninguém mais sabe esperar. Todo mundo quer ser a bola da vez, todo mundo quer chegar mais rápido, todo mundo pensa que é mais importante que todo o resto. O trânsito pode ser representado aqui como uma das maiores ilustrações disso. Eu mesma sou um exemplo da contaminação desse mal. Já justifiquei minha fúria no trânsito por motivos profissionais, de quem viajava 60 km por dia no trânsito mais infernal do país. Mas hoje vejo que mesmo quando estou indo à casa de uma amiga que mora pertinho, me excedo sem necessidade alguma. Qual o motivo de não podermos esperar? Não deveríamos ir mais devagar ao invés de termos tanta pressa? A vida por si só já não é breve e implacável? Devemos ser também?
Temos muito que refletir sobre isso. Abaixo um vídeo com a linda canção do Lenine, Paciência. E também um texto do Arnaldo Jabour, que sempre será muito citado aqui, como eu já havia dito.
PACIÊNCIA
(Arnaldo Jabor)
Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados... Muita gente iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.
Por muito pouco a madame que parece uma 'lady' solta palavrões e berros que lembram as antigas 'trabalhadoras do cais'... E o bem comportado executivo?
O 'cavalheiro' se transforma numa 'besta selvagem' no trânsito que ele mesmo ajuda a tumultuar...
Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido uma 'mala sem alça'. Aquela velha amiga uma 'alça sem mala', o emprego uma tortura, a escola uma chatice.
O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a cabeça, inconformado...
Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem sequer ler o título, dizendo que era longo demais.
Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem tempo para Deus. A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética dos calmantes está cada vez mais em alta.
Pergunte para alguém, que você saiba que é 'ansioso demais' onde ele quer chegar?
Qual é a finalidade de sua vida?
Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
E você?
Onde você quer chegar?
Está correndo tanto para quê?
Por quem?
Seu coração vai agüentar?
Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
A empresa que você trabalha vai acabar?
As pessoas que você ama vão parar?
Será que você conseguiu ler até aqui?
Respire... Acalme-se...
O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência...

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