quarta-feira, 26 de agosto de 2009

PAIXÃO E TRANSFORMAÇÃO


Paixão é encantamento, idealização do outro. Não existem defeitos, apenas o desejo da fusão, de ser um só, de poder ser acolhido e acolher. Não existe nada em volta, tão somente dois em um. Na natureza, sem paixão não existiria atração, desejo de fusão, de acasalamento, como na dança dos animais, um processo natural de atração mútua. Não é permitido ver defeitos, falhas - o feio e o não atraente não existem. Somente encantamento.


Paixão é criança "pulando feito pipoca" quando os pais chegam. As crianças precisam idealizar os pais para se sentirem protegidas e amadas. Não é permitida nenhuma desilusão nesse encantamento. Crianças não têm sustentação para entrar em contato com os defeitos dos pais, precisam ser mantidas dentro da imagem ideal.


Na paixão - a forma mais infantil de amar - os apaixonados não suportam desilusões, nem que o outro não corresponda à sua idealização. Muitos se desiludem dizendo: "Não era o que eu imaginava...". Pessoas assim têm medo de crescer e passam a vida de uma paixão para outra. Com a permissividade atual, estamos na era da "fast-paixão". Corremos o risco de infantilizar a forma de amar, sem suportar relações que vão além da idealização.


Esse é o amor idealizado! Crescer é dizer adeus às ilusões. Aí chega a fase da desilusão, do desencantamento que vem com a adolescência: "Meus pais não são o que eu imaginava...". Se a paixão leva à fusão, a desilusão leva à busca da própria identidade: "Sou diferente dos meus pais, não penso como eles".


Sem desilusão, a pessoa não cresce e não se diferencia. Muitos casais buscam se manter na paixão para não se desiludir, infantilizando a relação. A desilusão destrói o encantamento, mas traz realidade, identidade e individualidade. Nesse momento, os dois lados têm medo da ruptura e voltam a nutrir bons sentimentos. Mas surge depois outra irritação e tudo vira intolerância, implicam com tudo e, novamente, morrem de medo de perder um ao outro. Esse é o ódio idealizado porque como amor idealizado não é real, é na verdade uma projeção de afetos!


Assim chegamos à fase adulta, em que podem admirar as qualidades e suportar os defeitos do outro, encontrando equilíbrio entre o amor e ódio, sentimentos antagônicos que juntos constroem a têmpera do Amor Adulto. Numa festa de bodas de ouro, perguntaram à noiva como foram os 50 anos ao lado daquele homem. Ela respondeu "Foi duro! Mas eu gosto dele, fazer o quê?!"



(Edson Galrão de França - psicólogo clínico, psicoterapeuta corporal e consultor de empresas)

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