quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CADÊ A GRAÇA?



Em tempos de sites e aplicativos que oferecem sexo causal, compartilhamento de avaliações sobre desempenho sexual dos parceiros e de relações cada vez mais superficiais, distantes e descartáveis, me pergunto onde foi que perdemos a necessidade do flerte pessoal, da conquista através de uma boa conversa, regada a provocações inteligentes e sagazes, risos, brilho no olhar e aproximação gradativa. A vida está assim tão corrida, que precisamos otimizar, mecanizar e banalizar até uma das melhores práticas das nossas vidas de solteiros? Pergunto-me quando foi que substituímos o "conhecer pessoas" por "usar pessoas". Pergunto-me o porquê nos tornamos tão vazios, a ponto de desistirmos de relações nos primeiros obstáculos, iludindo-nos com a falsa expectativa de que trocar pessoas como troca-se de roupas, fará com que esta ou aquela "caia melhor" em nosso corpo. No mercado de pessoas, não tem essa de perfeição. Cada nova "peça" virá com seus diferenciais, mas também com necessidades de ajustes para, então, "cair" bem na gente (ou não). Mas pior do que desistir tão fácil, é nem tentar. Pergunto-me o porquê deixamos de arriscar, se todo mundo está careca de saber que, por mais difícil que seja, sem tentar, nos privamos de decepções, mas também do frio na barriga e daqueles momentos bons, que são raros, mas valem muito mais do que o tempo que duram. Pergunto-me quando foi que tornou-se mais divertido expor os parceiros em redes sociais do que tentar estabelecer relações de verdade, que envolvam mais que um desejo sexual, que envolvam coragem e maturidade para entregar-se de corpo e alma, encarando como adultos o ônus e o bônus disso. Falando em adultos, pergunto-me quando e porque decidimos que seria melhor utilizar os recursos tecnológicos para compormos uma sociedade onde adultos de todas as idades tem comportamento adolescente ao invés de utilizarmos esses mesmos recursos para alavancar com mais intensidade discussões sérias e movimentos de impacto em prol de causas que tenham a devida importância e relevância para todos. Pergunto-me se somos tão inseguros e imaturos mesmo ou se a tecnologia nos deixou com preguiça de crescer e viver uma vida real. Estamos nos tornando, quase todos, espectadores de pessoas que expõem o que gostariam de ser e nos expondo como gostaríamos que nos vissem. Já não sabemos quem é quem. E eu me pergunto onde está ficando a graça desse jogo, nosso respeito ao outro e nossa capacidade de amar.